09 novembro 2012

O Combate de Abóbora - Relatório do tenente Odhonel


O Relatorio do Tenente Odhonel
"No dia 7 parti ás 5 horas com destino á fazenda Arapuá, onde, no dia anterior, o bandido com o respectivo grupo havia deixado a cavalhada em que viajava e tomado outra. Convem salientar que depois da morte do sargento Miranda o perigoso grupo não viajou mais a pé.
Da fazenda Arapuá segui para o povoado de Abobora em cujas proximidades cheguei ás 9 horas com 8 praças, inclusive o sargento, por terem as outras se atrazado. Ainda encobertos pela caatinga, apeiamos amarramos os animaes, e, como de costume, mandei fazer o serviço de reconhecimento, designando para isto o sargento e o soldado Octacilio José de Senna, e com as demais praças fui seguindo na mesma direcção.
Pouco depois retorna o soldado Octacilio pedindo-me, da parte do sargento, mais dois homens que mandei, acompanhando-os, com o restante, á pouca distância. Ao sahirmos na esplanada, em cujo centro se acha o cemiterio, isto junto ao povoado, descobri o sargento amparado no muro do referido cemiterio, observando. Pergunto-lhe o que ha, e elle me responde:
- “Lampeão está na terra”.
Neste momento e á nossa vista, certamente prevendo combate, a feira que alli então se realizava debanda em formidavel correria e ao mesmo tempo os bandidos nos alvejam.
Deitamo-nos e entramos em acção. O solo descampado e plano não offerecia o menor abrigo. Depois de alguns instantes de fogo, 4 dos bandidos atrevidamente se levantam sempre atirando e procuram nos contornar, dois por um flanco, dois pelo outro.
Neste momento fui ao flanco esquerdo trocar o mosquetão que trazia por um fuzil. Voltei ao ponto em que estava. Como os bandidos cada vez mais se approximassem fui, de novo, ao flanco esquerdo, e então me diz o sargento não poder mais combater por estar ferido, em condições de não suster a arma; quando isto ouvia sou também ferido. Continuo no entretanto a combater e a encorajar os meus commandados. O sargento se retira em direção á caatinga e 3 soldados o acompanham. fiquei com o soldado Octacilio e mais duas praças. era o momento culminante. Os bandidos se aproximam mais e mais e o soldado Octacilio recebe um ferimento na cabeça e atordoado se retira.
Vou concitar os 2 restantes á resistência e os encontro mortos. Esta, portanto, só.
Amparo-me no muro do cemitério e eis que deparo num angulo do mesmo muro com um dos bandidos e alvejo-o: este cae ou se deita.
Contorno o muro e, no outro angulo deparo com outro bandido: alvejo-o e elle cae parecendo morto. Os demais bandidos investem sempre. Recuo um pouco e tomo posição atraz de um tronco e resisto alguns minutos. era, porém, impossivel continuar. Levanto-me e penetro na caatinga, onde fui acomettido de uma tontura que me prostrou certamente devido à perda de sangue. Quando púde me levantar encontrei pouco adiante o soldado Octacilio, depois os outros e finalmente os demais que se aproximavam.
Acolhemo-nos em uma casa onde, passado algum tempo, compareceu um velho dizendo haver recolhido o sargento ferido. Mandei buscal-o. Pouco depois fomos até o povoado e no respectivo cemiterio enterramos os dois companheiros mortos. Soube no povoado ter um dos bandidos passado por alli, morto e carregado nos braços pelos demais: crio tratar-se do 2, que alvejei no angulo do muro.
Ás 15 horas deste mesmo dia seguimos para a estação de Barrinha onde chegamos ás 23 horas, tendo, no dia seguinte, ás 8 horas, seguido com as praças do meu comando para Bomfim em caminhão que fora para isso designado. Ahi, eu e os dois soldados feridos recebemos os primeiros curativos pelo dr. Antonio Gonçalves.
Na manhã de 10 do corrente cheguei a esta capital pelo trem do horario.
Terminando, devo dizer a V.Ex. que o procedimento do sargento Manoel dos Santos, do soldado Octacilio José de Senna e dos dois fallecidos é digno de franco elogios. Souberam cumprir seu dever."
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